A 32ª Bienal de Arte de São Paulo, que nesta edição tem como título Incerteza Viva, fecha suas portas no próximo domingo, dia 11 de dezembro. Aberta em setembro, a mostra, que tem curadoria de Jochen Volz, reúne cerca de 90 artistas e coletivos que ocupam os espaços do Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
Conversamos com o arquiteto Alvaro Razuk, responsável pela expografia da Bienal de Arte, sobre suas estratégias de projeto para dialogar com o tema da mostra e intervir em um edifício tão emblemático como o Pavilhão da Bienal.
ArchDaily Brasil - Como o projeto expográfico para a 32° Bienal de Artes de São Paulo se relaciona com o tema desta edição: Incerteza Viva?
Alvaro Razuk - Dentro da discussão sobre o tema, vários outros conceitos e ideias foram trazidos pela curadoria: 1) Nível de entropia - Em um sistema entrópico os elementos que fazem parte dele se relacionam de forma coordenada, ou seja, eles co-existem. Da mesma maneira a curadoria nos orienta a não propor uma arquitetura onde esta hierarquia se explicita - rua principal, secundaria, salas maiores e menores. Por fim o curador Jochen Volz pediu para que ao desenharmos a exposição pensássemos em um jardim, como ele pode se articular, em que medida os elementos desta estrutura se inter -relacionam, etc.
A partir destas questões que em nossa opinião apontam a mesma direção, fizemos uma transposição de linguagem: Como em um parque onde massas vegetais contrastam com grandes gramados, desta maneira paredes altas e salas fechadas de ocorrência mais concentrada se contrapõe/coexistem com áreas livres, praças, espaços de estar, circulações, performances e instalações.
ADBR - Quais os desafios enfrentados ao projetar em um pavilhão desta escala, que tem quase 40 mil metros quadrados?
AR - Temos 3 pisos de 10 mil metros quadrados e usamos o térreo, o primeiro e metade do segundo (totalizando 25 mil metros quadrados). Penso que a quantidade de artistas e o partido arquitetônico e diretrizes da curadoria resultaram em um desenho agradável e bastante dinâmico, onde o contraste entre regiões mais povoadas com regiões menos densas fez com que a visita destes 25 mil m² ocorresse de forma gradual e surpreendente.
ADBR - Intervir, mesmo que temporariamente, em um projeto de Oscar Niemeyer pode ser ao mesmo tempo entusiasmante e opressor. Nesse sentido, buscou-se no projeto expográfico alguma espécie de diálogo com a arquitetura do pavilhão? Como?
AR - Ao se desenhar uma exposição, cada edifício apresenta limites e oportunidades. Procuramos sempre ler a edificação e tirar partido de suas qualidades e dificuldades, e acho que conseguimos. O Pavilhão da Bienal, quando aparece, surge de forma surpreendente. O fato de ser um prédio desenhado por Oscar Niemeyer, diante de tudo isso, passa ser secundário.
ADBR - Qual a importância do mobiliário e das cores para o projeto de expografia?
AR - O mobiliário é de extrema utilidade nas áreas de descanso que são muito necessárias e frequentadas. Em nossa proposta, desenhamos 2 tipos que se repetem e criam uma paisagem própria (rodas, massas maiores ou menores etc.) As cores, quando aparecem, possuem o mesmo valor cromático do branco escolhido para os painéis, reforçando o caráter ambíguo da arquitetura desta exposição, que é uma das grandes riquezas e sofisticações deste projeto. Muitas vezes não se percebe o uso das cores e por vezes pensa-se que as cores são reflexos da luz de fora do pavilhão.
ADBR - Houve alguma interação ou relação como os artistas selecionados pela Bienal? Se sim, como isso influenciou o projeto expográfico?
AR - Falamos muito com vários artistas, sempre mediado pela curadoria. Tentamos sempre adequar o projeto em função das demandas surgidas, porém sem perder o partido arquitetônico escolhido.
Ficha técnica
- Projeto Expográfico: Alvaro Razuk Arquitetura
- Equipe: Alvaro Razuk, Daniel Winnik, Isa Gebara, Juliana Prado Godoy, Paula Franchi, Ricardo Amado e Silvana Silva
- Curadoria: Jochen Volz
- Cocuradores: Gabi Ngcobo, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen e Sofía Olascoaga